“We argue in the kitchen about whether to have children, about the world ending and the scale of my ambition, and how much is art really worth?” (King, Florence + the Machine)
Mês passado eu viajei para o Rio de Janeiro. Fiquei semanas refletindo sobre as diferenças entre o Rio e São Paulo. Como o espírito de uma cidade molda o estilo de vida das pessoas, ou vice-versa. São Paulo. Poucos sabem, mas é a maior cidade de toda a América, superando Nova Iorque. Um centro urbano de tamanha proporção, recheado de clichês e surpresas. Afinal, para além do trânsito, da pressa e da vista de prédios e mais prédios, moramos numa cidade com a maior concentração de histórias inusitadas. Pessoas nascem e se mudam pra cá atrás de inúmeros diferentes sonhos.
Já o Rio, inundado de romance e paisagens de cena de novela.
No ponto de inflexão que me encontro hoje, me vi também preso entre as cidades. Entre a cidade e a praia, o voraz e o sossego, um cosmopolitan e a caipirinha de dez (reais). Grandes decisões costumavam me paralisar, mas hoje, não posso evitar de sentir alívio com a imprevisibilidade caótica da vida somada a forte intuição que carregamos com nós mesmos pra onde vamos.
“It turns out everywhere you go, you take yourself, that’s not a lie” (Fuck it I love you, Lana Del Rey)
Todas as músicas que eu ouço ultimamente tem me lembrado da minha ambição. Há anos sonho com um projeto como esse. Um lugar para postar textos meus. Parece loucura, mas é minha resposta perfeita para o que eu gostaria de fazer da vida, escrever. Começar essa coluna a la Carrie Bradshaw faz parte crucial do meu ponto de inflexão. É um novo começo para mim. Fato curioso sobre mim: eu tenho apenas um metro e meio de altura. Boa parte das aflições da minha vida derivam de uma sensação absurda de ser pequeno demais perante o mundo. Me vejo agora entre as coisas que fiz ano passado, e as que farei no próximo.
Decidi que viagens pro Rio me bastarão. Sou apaixonado por São Paulo. A peça crucial para minha escolha deriva da escala da minha ambição. Quando me comparo a Carrie, ou digo que gostaria de viver de escrever, falta clareza no quão sério estou falando. Através das loucuras que vivi esse ano, pude me enxergar como um estereótipo ideal de artista: mais do que uma “síndrome de personagem principal”, eu tenho o real desejo de projetar minha vida como um filme. A cidade aqui entra como um cenário. O que de fato separa a verdadeira Nova Iorque dos incontáveis sets de filmagem para filmes e seriados que se passam em Nova Iorque, se não apenas um ajuste na forma de pensar?
“I moved to California but it’s just a state of mind” (Fuck it I love you, Lana Del Rey)
De referência em referência, meu cérebro maquina o tempo todo qual a próxima frase perfeita. Os últimos anos da minha vida serviram pra me mostrar que eu sou feito assim. Minha mente está o tempo todo buscando pela próxima metáfora mais interessante. O metrô é onde solto mais faíscas, as engrenagens trabalhando em velocidade máxima. Faço das pessoas no vagão, personagens profundos e complexos. A música que ouço é sempre trilha sonora de alguma cena. Grandes momentos da minha vida são cliff hangers de final de temporada. Me tornar um jovem adulto em São Paulo me alimentou muito a fome por romance, mas não apenas por romance na vida amorosa. Tenho sede de romance em tudo, quero uma vida romântica. Aprendi a sonhar como nos filmes, e aceitar que a vida real não é um filme é algo que não estou disposto a fazer. Me chame de delirante, mas acho que o mundo precisa sim de algumas pessoas como eu. Acredito que contar histórias está no coração de toda arte, no fim precisamos de alguém que as conte.
Toda essa provocação me empurrou aqui. Se todo mundo tem um pouco de síndrome de personagem principal, quem é que vai ter coragem de realmente agir como um? Toda arte vem acompanhada desse frio na barriga. Se expor ao ridículo.
Me entrego então nesse delírio: escrever colunas semanais, sobre o que quer que eu esteja pensando. A vida, num geral. Textos descompromissados, recheados das minhas referências à Sex and the City, letras de músicas das minhas playlists, e da mais pungente vontade de se aventurar pelo que a cidade pode me oferecer. Esse é meu portfólio, meu manifesto, meu plano.
“I’m not trying to exaggerate, but I think I might die if I made it” (Clara Bow, Taylor Swift)
Talvez as cidades possam ser apenas estados de espírito, e talvez São Paulo e Rio não sejam tão diferentes, afinal. Mas através de um corredor de estigmas, rótulos, ideais e sonhos, encontro-me hoje novamente numa cidade esperançosa. Percebo que não estou mais me sentindo engolido ou pequeno demais para o tamanho do mundo. Acontece que posso ser só alto o suficiente.